A pessoa por trás do estereótipo
Todo preconceito traz consigo diversos estereótipos, e isso não é diferente com a pobrefobia. Em uma sociedade que funciona a partir do consumo, na qual o status é determinado pelas posses e aparências, aqueles que não podem consumir são automaticamente jogados de lado.
Na pesquisa feita pelo Observatório da Pobrefobia em 2022 com diversos moradores de rua da cidade de São Paulo, foi trazida a enorme dificuldade em frequentar restaurantes, padarias, lojas e outros estabelecimentos devido ao preconceito que essas pessoas sofrem. Ouvindo diariamente que são sujas, perigosas, preguiçosas e viciadas, a população de rua é cada vez mais excluída e impossibilitada de participar de qualquer tipo de interação.
Existem inúmeros motivos que levam uma pessoa a viver na rua, e reduzir milhões de vidas e desafios a um julgamento de falta de esforço e presença de vícios não é apenas injusto, mas também uma análise extremamente superficial. A vida nas ruas é dura, além da fome, do frio e da falta de direitos humanos básicos para a sobrevivência, a solidão é esmagadora; então muitos se voltam para entorpecentes como uma forma de anestesiar essa realidade. No entanto, ao passar apenas um dia convivendo e conversando com essas pessoas, fica evidente a pluralidade de histórias que se pode encontrar.
Na rua já ouvi histórias de idosos, que não tendo família para ampará-los e sem ter como trabalhar, passaram a viver na miséria. Conheci crianças com olhos cheios de esperança e de sonhos, e crianças cuja juventude foi arrancada cedo demais. Conheci homens e mulheres que perderam tudo por causa de drogas, e homens e mulheres que nunca tiveram nada para perder.
Não posso dizer que todos os moradores de rua são boas pessoas, assim como não afirmo que todos são ruins, porque não são anjos nem demônios, são apenas pessoas. Pessoas que trabalham, lutam e sobrevivem todos os dias.
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