21 de julho de 2025 / 5 min

As policias, o ódio ao pobre e a ditadura que não passou para muitas pessoas

Um jovem de 15 anos é agredido na estação do metrô Belém na zona leste de São Paulo, o crime pedir dinheiro para um lanche para as pessoas que passavam pela estação, os violadores do seu corpo são os policiais do metrô, aqueles que dizem serem seguranças, mas que possuem as mesmas ações e preconceitos […]
Paulo Escobar
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Um jovem de 15 anos é agredido na estação do metrô Belém na zona leste de São Paulo, o crime pedir dinheiro para um lanche para as pessoas que passavam pela estação, os violadores do seu corpo são os policiais do metrô, aqueles que dizem serem seguranças, mas que possuem as mesmas ações e preconceitos que qualquer organização policial na cidade. Mais algumas marcas para um corpo que rotineiramente sofre violências por parte de policiais.

Uma Sra. que mora nas ruas tenta defender seus poucos pertences, seus documentos e seus remédios, numa manhã fria na cidade de São Paulo, cidade que diz receptiva, mas na qual a recepção depende do quanto dinheiro você possui no seu bolso. Empurrões, humilhação e gás de pimenta, sobre o seu corpo de tantas décadas de rua, os seus violadores são parte da policia da prefeitura da cidade, a GCM, guarda policialesca que tem sadismo em suas ações quando se trata de pessoas que moram nas ruas.

Um jovem de 24 anos, na cidade de Diadema, é jogado de uma ponte, durante um enquadro, os seus violadores são policiais militares do Estado de São Paulo, que estavam em mais um dia de “trabalho” na periferia, tendo ações “isoladas” que são rotinas nas periferias, que hoje são filmadas, mas que mesmo em tempos de não câmeras já rolavam.

Julho de 2013 um pedreiro que sobe a Favela da Rocinha no Rio de Janeiro não chega em casa, sua família o busca sem nunca ter encontrado o seu corpo, corpo que foi torturado e violentado por policiais de uma unidade pacificadora, nesta favela do Rio de Janeiro. Até hoje a família de Amarildo não conseguiu enterrar seu corpo, se tornando mais um caso de desaparecimento em meio a tal democracia.

Os dois primeiros relatos são alguns dos muitos que escuto nestas décadas com a população de rua, são deste ultimo mês, marcas que vi nos corpos de quem sofreu estas violações. Os dois últimos relatos são de jornais e meios de comunicação dos mais variados, de duas situações que ficaram na memória de algumas pessoas desta sociedade que se comove dependendo dos corpos que são atingidos.

Alguns artistas, figuras chamas de publicas, pessoas do campo progressista como se diz, clamaram contra a ditadura militar no Brasil ou América Latina, naquelas décadas de
torturas e desaparecidos, alguns com meios para de auto-exilarem com alguns privilégios na Europa, outros procurando sobreviverem debaixo do medo, violência e fome que se respiravam.

Costumo pensar que para alguns de determinadas classes e privilégios, começaram a erguer suas vozes quando a repressão a qual não estavam habituados bateu suas portas, repressão que em outras portas eram e são parte de uma rotina perversa, mas
algumas destas mesmas figuras se silenciaram após este período ou dizem viver em democracia e que isso não mais acontece no país no qual eles vivem.

As policias, pois existem algumas de diferentes fardas e diversas siglas, seguem exercendo o poder, a tortura, julgando e decretando os mesmos corpos, a mesma cor, a mesma classe ou mesma origem, mesmo em meio a tal democracia. As rotinas militares de violências, de agressões seguem e nunca terminaram, a estrutura militar que guerreia contra o povo pobre nunca deixou de existir, somente foi rotinizada e minimizada nas narrativas de muitos que atrás dos seus privilégios ou fama se sentem mais seguros dentro de seus mundos, de seus refúgios.

As abordagens seguem o roteiro de ver quem está sendo enquadrado para determinar a ação que o policial ira a seguir, naquele roteiro do “você sabe com quem está falando” quando se tem dinheiro para o policial que aborda, ou do “me chama de Sr.” para o abordado pelo policial que se cresce quando do outro lado a cor ou classe liga o sinal repressivo na mente daquele que possui a farda.

As policias em sua estrutura são racistas, mas também são aporofobicas/pobrefobicas e para isso não é necessário ir em pesquisas longínquas, não é necessário ir aos livros de história sobre o período militar que o país viveu, basta acordar no dia seguinte para ouvir ou ler de mais um caso isolado que alguma das tantas policias cometeu, ver a cor ou classe dos corpos atingidos, ou da pena da morte exercida para perceber que não há casos isolados e nem balas perdidas nos lugares onde a violência policial nunca deixou de exercer seu papel de ódio ao pobre. Basta ver o silencio de vozes que um dia gritaram contra a repressão, mas que hoje fingem não ver que milhões vivem as ditaduras travestidas de democracias.

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