Exemplos concretos de Aporofobia no cotidiano

A aporofobia ou pobrefobia. descreve a aversão, o medo e o desprezo pelos pobres. É uma realidade que, infelizmente, encontramos com frequência no nosso cotidiano, mas que merece nossa atenção e ação.
A pobrefobia é um preconceito que afeta aqueles que têm menos recursos, aqueles que enfrentam desafios diários para sobreviver e prosperar. Ela se manifesta de várias maneiras, desde a arquitetura hostil de espaços públicos até campanhas discriminatórias por parte de grandes marcas. Este é um preconceito que não podemos mais ignorar.
Vamos explorar juntos exemplos concretos de aporofobia que vemos no nosso dia a dia. Mais do que apenas destacar essas situações, é fundamental compreender a importância da conscientização sobre esse tema. Através do conhecimento e da solidariedade, podemos combater a aporofobia e trabalhar juntos para construir uma sociedade mais justa e inclusiva.
Sumário
Aparência na Arquitetura Urbana
Nossas cidades, muitas vezes celebradas por sua diversidade e vitalidade, também abrigam tristes manifestações de aporofobia que não podem ser ignoradas. A pobrefobia encontra expressão em nossas ruas e espaços públicos de maneiras que atingem diretamente os mais vulneráveis entre nós.
Barreiras humanitárias em espaços públicos
As “barreiras humanitárias” que o prefeito de Sorocaba (SP) anunciou para impedir a entrada de usuários de drogas da cracolândia na cidade.
Estas estruturas são projetadas para impedir a presença de pessoas em situação de rua. Embora possam ser justificadas como uma medida de segurança ou higiene, não podemos deixar de perceber o quão desumanas elas são. Em vez de oferecer ajuda e compaixão, elas restringem o acesso a espaços públicos, negando a pessoas carentes o direito a abrigo e dignidade.
Bancos com divisórias

Em nossa busca por conforto nas praças e parques da cidade, muitas vezes encontramos bancos com divisórias. Embora possam parecer projetados para evitar o vandalismo ou o uso indevido, eles também têm o efeito de impedir que as pessoas se deitem ou descansem. Estas divisórias, em vez de serem acolhedoras, refletem a hostilidade em relação àqueles que não têm um lugar para chamar de lar.
Gotejamento constante em marquises

Em dias chuvosos ou ensolarados, nossas marquises deveriam servir como refúgio para aqueles que precisam. No entanto, em algumas áreas, as marquises são projetadas com gotejamento constante. Esta prática desumana impede que as pessoas se abriguem do clima, negando-lhes um espaço para descanso e proteção.
Estacas pontiagudas

Nas calçadas de nossas cidades, não é raro encontrarmos estacas pontiagudas colocadas nos muros ou nas próprias calçadas. Elas não são apenas um obstáculo físico, mas também uma barreira simbólica que sinaliza claramente que esses espaços não são para aqueles em situação de vulnerabilidade. Isso é não apenas hostil, mas profundamente injusto.
Jatos de água em lojas
Também encontramos lojas que usam jatos de água para expulsar aqueles que tentam descansar em frente aos estabelecimentos. Estas práticas não apenas são cruéis, mas também desumanizam as pessoas em situação de rua, negando-lhes a dignidade de um breve momento de repouso.
Manifestações em grandes marcas e estabelecimentos
- A placa que uma igreja de Florianópolis colocou proibindo a doação de esmolas para pessoas em vulnerabilidade nas dependências da instituição.
- O sistema antifurto de carnes que um supermercado de São Paulo adotou, consiste em colocar etiquetas magnéticas nas embalagens dos produtos mais baratos.
- As garras de ferro que um restaurante na zona leste de São Paulo colocou embaixo das mesas externas para afastar os moradores de rua.
- A campanha publicitária de uma marca de roupas que usou o slogan “Não somos para todos”. A propaganda foi acusada de ser elitista e excludente, pois sugeria que a marca era destinada apenas para um público seleto e privilegiado.
- O caso da loja de chocolates que colocou uma placa na porta dizendo “Proibida a entrada de crianças”. A loja alegou que a medida era para evitar furtos e danos aos produtos, mas foi denunciada por violar o Estatuto da Criança e do Adolescente e por ser preconceituosa com os menores.
- O episódio do banco que instalou grades nas portas dos caixas eletrônicos para impedir o acesso de moradores de rua. O banco afirmou que a medida era para garantir a segurança dos clientes, mas foi condenado pela Justiça por violar os direitos humanos e por praticar aporofobia.
- A situação do restaurante que cobrou uma taxa extra de 10% para clientes que pedissem água da torneira. O restaurante disse que a cobrança era para compensar o custo do serviço, mas foi multado pelo Procon por abusar do direito do consumidor e por discriminar os clientes que não quisessem pagar por água engarrafada.
O caso do Banco Itaú

O caso do banco Itaú é um exemplo de aporofobia que foi denunciado pelo padre Júlio Lancellotti em sua conta do Instagram. Ele publicou uma foto de uma agência do Itaú na Avenida Cidade Jardim, em São Paulo, que tinha grades nas portas dos caixas eletrônicos para impedir o acesso de moradores de rua. O padre acusou o banco de violar os direitos humanos e de praticar aporofobia, que é a aversão aos pobres. O banco Itaú não se manifestou sobre o caso.
Denúncia de práticas aporofóbicas
O padre Júlio Lancellotti atacou o banco Itaú e debochou do comercial do “Respeito”, que mostrava uma garotinha pedindo por respeito em meio à pandemia.
O padre publicou uma foto de uma calçada com arquitetura hostil, que impedia que as pessoas em situação de rua se abrigassem na frente de uma agência do Itaú. Ele escreveu a palavra “respeito” por cima da imagem e pediu que o banco removesse as intervenções hostis de todas as suas agências.
O padre Júlio Lancellotti também fez uma grave acusação contra o banco Itaú em outro post, em que mostrou blocos de pedra na calçada de outra agência do Itaú, que também dificultavam o acesso dos moradores de rua. Ele citou a palavra “aporofobia” e denunciou a prática discriminatória do banco
As postagens do padre Júlio Lancellotti tiveram grande repercussão nas redes sociais e na mídia, gerando críticas e protestos contra a postura do banco Itaú. Muitas pessoas demonstraram tristeza e indignação com a conduta aporofóbica do banco, que contrastava com a sua propaganda sobre respeito
Combate à Aporofobia: Educação, Políticas Públicas e Solidariedade
Quando nos deparamos com as cruéis manifestações da aporofobia em nossa sociedade, fica evidente que é chegada a hora de agir.
O combate a essa forma de preconceito requer esforços concertados e abordagens multifacetadas. Três pilares fundamentais podem nos guiar nessa jornada: educação e conscientização, políticas públicas eficazes e a solidariedade como antídoto.
Educação e Conscientização
O primeiro passo no combate à aporofobia é a educação. Precisamos entender a raiz desse preconceito e como ele se manifesta em nossa sociedade. A conscientização é a chave para reconhecer que a aversão aos pobres é uma forma de injustiça que prejudica a todos nós. Ao educar-nos sobre as causas e consequências da pobrefobia, podemos começar a desafiá-la em nosso cotidiano.
A educação também desempenha um papel importante na desconstrução de estereótipos prejudiciais. Devemos promover narrativas que humanizem as pessoas em situação de vulnerabilidade, lembrando-nos de que cada indivíduo merece respeito e dignidade, independentemente de sua condição econômica.
Políticas Públicas Eficazes
O segundo pilar de combate à aporofobia são as políticas públicas eficazes. Para criar uma sociedade justa e inclusiva, é fundamental que o Estado desempenhe um papel ativo na promoção da igualdade. Isso inclui o acesso a moradia, educação, assistência médica e oportunidades de emprego para todos os cidadãos.
Além disso, as políticas públicas devem abordar a discriminação sistêmica que perpetua a desigualdade. Isso inclui medidas para garantir que espaços públicos sejam projetados de maneira inclusiva, respeitando a dignidade de todos. O combate à aporofobia deve ser incorporado em todas as esferas das políticas governamentais.
Solidariedade como antídoto

O terceiro pilar é a solidariedade. A solidariedade é um antídoto poderoso contra a aporofobia. Quando nos unimos como comunidade, somos capazes de oferecer apoio e compaixão àqueles que enfrentam dificuldades. A solidariedade nos lembra que somos todos interdependentes e que devemos cuidar uns dos outros.
Pequenos gestos de solidariedade, como oferecer uma refeição a alguém faminto ou um sorriso a alguém que está sofrendo, têm um impacto significativo. Aa solidariedade nos motiva a defender políticas e práticas que promovam a igualdade e a justiça para todos.
Erradicar a aporofobia para construir uma sociedade justa e inclusiva
Ao explorar os exemplos de aporofobia no nosso cotidiano e as estratégias para combatê-la, é evidente que enfrentamos um desafio significativo. A aporofobia é um preconceito que não pode ser tolerado em uma sociedade que aspira à justiça e à inclusão para todos os seus cidadãos.
A necessidade de erradicar a aporofobia é urgente. Ela nega a dignidade das pessoas pobres, perpetua a desigualdade e mina a coesão social. A hostilidade em relação aos menos afortunados só serve para criar divisões em nossa sociedade, em vez de unir-nos em solidariedade.
A construção de uma sociedade justa e inclusiva requer nosso compromisso coletivo. Devemos lembrar que a verdadeira riqueza de uma nação não está apenas em seus recursos materiais, mas na empatia, compaixão e igualdade que oferecemos a todos os membros da comunidade.
Somente quando erradicarmos esse preconceito poderemos vislumbrar um futuro onde cada indivíduo, independentemente de sua condição econômica, possa desfrutar da igualdade, da dignidade e da justiça que merece.
A construção de uma sociedade justa e inclusiva é um sonho que pode se tornar realidade se todos nos comprometermos a combater a aporofobia e a promover o respeito e a solidariedade. Unidos, somos capazes de criar um mundo onde ninguém seja deixado para trás, e todos possam participar plenamente na construção de um futuro melhor.
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