Há seres humanos morando nas ruas. O que você faz?

Espalhados pela cidade, como verdadeiras populações, nos sinais, nas calçadas, debaixo dos viadutos, nas marquises dos prédios onde você mora, nas praças próximas a sua casa, em suas casas improvisadas ou então debaixo de uma coberta sob as luzes dos céus ou as luzes da cidade. São milhares de pessoas morando nas ruas das cidades, os mais pobres, vitimas da globalização da miséria, que maltrata milhões pelo mundo.
Pessoas que não brotaram na sua porta, seres humanos que foram destinados as ruas, muitas vezes denominados como pessoas em situação de rua, quando a situação na vida de alguns acaba se perpetuando, para milhões a situação é condição, não é passageira e não se alimentam de termos mais suaves diante de uma realidade cruel a qual vivem todos os dia, por meses, anos, décadas, por toda a vida…
Seres humanos andando com seus sacos pretos nas suas costas, que possuem nomes, com cicatrizes de tantas violências, algumas visíveis outras internas, caminhantes com rumos diversos, na busca da tal oportunidade, esta que muitas vezes parece o horizonte que insiste em se distanciar a cada passo na direção a ele.
Com seus cachorros ao lado, que muitas vezes possuem mais sorte na compaixão e na caridade social, com suas marmitas ou cumbucas, com seus sonhos na crença de quem sabe no próximo segundo a tal situação realmente seja passageira.
Estigmatizados, taxados de tantos nomes, suspeitados, ironizados, julgados moralmente, suas realidades pensadas por terceiros, infantilizados, idiotizados, tutelados, imaginados de formas deturpadas, objetos de estudos de quem muitas vezes não se aproxima deles. Seres humanos merecedores de juízos sociais, juízos estatais, seres humanos que devem se conformar com as migalhas das políticas escritas pelas mãos de quem nem sabe quem são, vitimas de decisões que pensaram por eles como a vida deles deve ser.
Seres humanos motivos do ódio, da revolta daqueles que pensam que uma bolsa reparação seja motivo da continuidade dos mesmos viver à custa de governos, governos diversos que mais lhe tiraram do que lhes deram, que contribuiram com essa condição, não seriam algumas centenas que iriam lhes devolver os roubos históricos da qual foram vitimas.
Você viveria com algumas centenas? Com alguns filhos e filhas, com aluguel em terra de moradia como privilégio, com alimentação, com tantas coisas que são pagas para viver?
Há seres humanos morando nas ruas, com erros e acertos, que amam, com alegrias e dores, com sonhos e fome, com vontade de dançar e cantar, alguns que bebem e fumam como você, com histórias, com todas as contradições que um ser humano possui. Seres humanos invisíveis quando a invisibilidade interessa e visíveis quando a opressão os encontra.
Há seres humanos morando nas ruas, com tudo que ser humano involucra, seres humanos que passam por você todos os dias, que assim como você olham suas ações também, sei que você já os viu ou sabe que existem, estão aí no seu dia a dia, são parte da sua rotina de alguma forma e infelizmente não acabarão pela tal mágica sistêmica ou o sorriso da oportunidade que dizem estar aí para todos.
Se afastar, atravessar a rua, sentir nojo, tacar fogo, xingar, culpar pela sua condição, julgar moralmente, bater, torcer pela repressão, sentir felicidade quando somem, repulsa, ódio, revolta, felicidade, solidariedade, vai ao encontro, culpar religiosamente, os estuda, os olha de cima para baixo, estende a mão…
O que você faz quando vê um morador de rua andando pela sua cidade, vivendo no seu planeta?
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