Pobreza: Um Projeto de Poder Político

Quando ouvimos falar em projeto de poder político, poderíamos pensar em algo relacionado à busca por determinados objetivos políticos, econômicos ou sociais, dependendo do partido. Isso pode envolver a defesa de interesses, a busca por mudanças sociais ou a consolidação de posições no cenário político.

Realmente parece ser difícil acreditar que políticos, cuja função social seria representar os interesses da sociedade em geral, incluindo todos os grupos que compõem uma sociedade, seriam capazes de articular e construir um projeto de poder político chamado pobreza. Deveriam obrigatoriamente estar legislando para o bem comum, mediando conflitos e promovendo a paz.

Enquanto alguns acreditam que faltam políticas públicas para acabar com a pobreza, posso afirmar que as políticas públicas não só perpetuam a pobreza, como ampliam essas desigualdades.

Em teoria, política pública é um conjunto de ações planejadas e implementadas pelo governo para abordar questões sociais, econômicas e ambientais, visando promover o bem-estar da população e o desenvolvimento sustentável da sociedade, mas esse conceito não se concretiza nas ruas, não sai do campo da teoria.

Não podemos aceitar a pobreza como um projeto político deliberado. E digo que é deliberado por ser intencional, feito de forma consciente, proposital e planejada, como qualquer outro projeto de poder político.

Primeiro como uma ferramenta de controle social, privando os mais pobres de acesso a recursos básicos como educação de qualidade, saúde, moradia digna e oportunidades de emprego, o sistema político perpetua a dependência e a subserviência dessas pessoas.

Além disso, o uso inadequado dos investimentos públicos continua sendo uma escolha política deliberada para concentrar a riqueza nas mãos de poucos em detrimento do bem-estar coletivo.

A pobreza não surge no sistema de maneira acidental. A pobreza não é apenas um resultado inevitável da distribuição desigual de recursos, mas sim um projeto político porque é mantida por sistemas de opressão e exploração que beneficiam sempre as elites.

Num sistema que inclui exploração do trabalho, acesso desigual a recursos e oportunidades, e a perpétua narrativa que culpa os mais pobres por sua própria condição, nunca responsabilizando as estruturas políticas e econômicas que as mantêm nesse estado, não há como dizer que a pobreza é culpa do pobre, como a elite do nosso país quer que todos nós acreditemos.

E para finalizar essa narrativa, descrevo aqui a crítica que a Deputada Érika Hilton manifestou publicamente ao explicar seu ponto de vista a respeito da ‘Fome como Projeto de Poder’.

Em suas palavras, disse:
“Para que eu vou combater a fome? Para que vou fazer com que as pessoas consigam pensar? Porque quando elas estão com fome, elas não pensam. Quando elas estão com fome, elas agem pelo desespero da fome. Vejam, para os políticos que dominam esse país, o quanto isso é poderoso. E aí eu apareço de quatro em quatro anos, eu dou cesta básica pra todo mundo, eu faço churrasco, eu dou dois pacotes de cimento e eu tô eleito há trinta anos, os meus pais, meus irmãos, meus tios, meus avós, minhas esposas, está todo mundo eleito, porque a fome é um projeto de poder. A matemática para enfrentar a fome já está pronta. Não existe segredo para enfrentar a fome num país que produz tanto alimento como produz o Brasil. O que falta é boa vontade política. O que falta é empatia, é amor, é não querer controlar as pessoas e a sociedade pelo estômago. Isso é cruel, isso é perverso e as pessoas não se dão conta disso, mas isso é calculado, milimetricamente calculado. É preferível desperdiçar comida do que matar a fome de quem tem fome, porque não matando a fome eu controlo, eu garanto meus votos, eu garanto minhas igrejas cheias, eu garanto as pessoas esperançosas por um prato de comida.”