18 de abril de 2024 / 7 min

Quanto custa cada morador de rua para assistência social da cidade de São Paulo? As pessoas na rua como projeto político, dados 2024

Quanto custa cada morador de rua para assistência social da cidade de São Paulo? As pessoas na rua como projeto político, dados 2024 Quanto custa um morador de rua na cidade de São Paulo? Quanto a assistência destina para estas pessoas? Destes valores, o que realmente chega às mãos desta população? Por que continuam nas […]
Paulo Escobar
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Quanto custa cada morador de rua para assistência social da cidade de São Paulo? As pessoas na rua como projeto político, dados 2024

Quanto custa um morador de rua na cidade de São Paulo? Quanto a assistência destina para estas pessoas? Destes valores, o que realmente chega às mãos desta população? Por que continuam nas ruas mesmo em meio à tanta grana? Com tudo que lhes é dado, como seguem morando nas ruas?

Estes devem ser alguns dos questionamentos que são lançados por diversas pessoas ao se depararem com estas realidades, quando pensamos nas milhares de pessoas destinadas às ruas na cidade de São Paulo. Mas quantos são os serviços e valores destinados por parte da assistência social a esta população?

Para essa pesquisa sobre pobrefobia, entramos em contato com a SMADS (Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social) pedindo o total de serviços e verbas de toda a assistência da cidade de São Paulo para a população de rua. Uma vez recebida a planilha com toda essa relação, foi então que tivemos que separar os serviços que atendem o povo de rua através da tipologia e site da SMADS, mesmo sabendo que outros serviços da assistência também são frequentados por essa população.

Realizamos a separação dos serviços, planilhamos e conseguimos ter uma visão da quantidade de serviços e valores destinados a cada um mensalmente, depois fizemos a soma da verba de todos os serviços para entender os valores per capita destinados a esta população que mora nas ruas da cidade.

De acordo com estes dados enviados pela SMADS, separados os serviços do povo de rua, chegamos a um total de 213 serviços dos mais variados na cidade de São Paulo voltados para esta população, espalhados em diferentes pontos da cidade, entre eles albergues, repúblicas, vilas reencontros, centros de convivência, abordagens urbanas e por ai vai. O valor total da verba de todos os convênios somados, é de R$ 45.936.173,59, repassados mensalmente aos convênios.

Você pode ter acesso aos valores de cada serviço, com números de editais, verbas de cada e outros detalhes, onde também é possível baixar a planilha neste link.

moradores fabio vieira
Foto: Fábio Vieira/Metrópoles

Uma das questões que é possível analisar é que, de acordo com o Censo da prefeitura de São Paulo do final de 2021, há 31.884 pessoas morando nas ruas da cidade, diante deste numero e do valor somado dos serviços da rede da Assistência para esta população, o valor per capita para cada morador de rua é de R$ 1.440,72 mensal. Pensando que o salário mínimo hoje é de R$ 1.412,00 mês, é possível ver que mais de um salário mínimo para cada morador de rua na cidade é investido, de acordo com este censo.

Se partirmos do Censo da UFMG, que leva em consideração a contagem através do CadÚnico, que é o cadastro dos benefícios sociais, hoje na cidade de São Paulo há 64.818 pessoas morando nas ruas da cidade, números de dezembro de 2023. Partindo deste censo o valor per capita de acordo com a soma dos serviços do povo de rua, seria de R$708,69 por pessoa mensal.

Mas, diante de todos estes números, é possível ver outras possibilidades de assistência. Quem sabe se estas verbas chegassem direto a esta população, mesmo que fosse uma parte, já seria melhor aproveitado. Com um acompanhamento social sem tanta interferência dos interesses das muitas ONGs, haveria autonomia como regra e não a tutela que gera lucro e interesses políticos de muitas destas organizações “sem fins lucrativos”.

A questão que tudo isto seria uma verdadeira utopia, diante de uma gestão de uma cidade que enxerga tudo isso como uma empresa a ser gerida, números a serem mostrados e atendimentos que precisam ser planilhados. Se você prestar atenção nos dados verá que muitas dessas organizações recebem por atendimentos e vagas; existe a necessidade de ver este povo como clientes de um grande negócio ou gestão e controle da miséria.

Cada uma dessas ONGs, quando aumentam o número de atendimentos ou atendidos, podem pedir um adiantamento de aumento das verbas. Existe toda uma lógica de “atendimento pelo atendimento”, a lógica assistencialista que não aponta os problemas estruturais, que não garante direitos ou dignidade, só migalhas que caem dos milhões de reais das mesas dos editais de muitas ONGs que visam o cliente e não os ser humano que mora nas ruas.

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A Economia de Gotejamento da Assistência Social

Acredito que se esta verba ou parte dela chegasse até as pessoas que moram nas ruas, além de girar a economia, faria com que muitos destes seres humanos pudessem locar seus espaços e quem sabe diminuir a quantidade de pessoas que moram nas ruas da cidade de São Paulo, mas, ao invés disso, as gestões colocam diversos atendimentos, trazem a narrativa ao restante da sociedade que tudo está sendo feito, de forma vertical claro, para esta população, e assim o restante da sociedade culpabiliza o povo de rua ainda mais pela sua condição, potencializando o discurso no restante da sociedade.

Mas o que chega de toda esta verba para a população de rua além do sabonete de motel, a marmita de arroz com salsicha, o copo de água, o café ralo e o pedaço de pão? Como se dilui o restante desta verba pública que poderia chegar direto para este povo sem intermediários? Intermediários que enxergam na gestão da miséria um negócio rentável e as gestões que muitas vezes favorecem estas organizações até por questões políticas.

Há interesse de que as pessoas saiam de forma efetiva das ruas? Ou o melhor caminho é manter elas na miséria como um projeto político de um estado que paga de caritativo e bondoso para o restante da sociedade?

Temos que levar em consideração também que não é toda a população de rua que acessa os serviços da assistência, que só estamos falando da verba da assistência social, sem contar a saúde ou os direitos humanos, que também possuem ONGs por trás destes editais, o que pode vir a fazer o valor ser ainda maior do que este que está sendo colocado aqui.

Nesta gestão da cidade como uma grande empresa, os pobres e mais pobres são discriminados e violentados de forma pobrefóbicamuitas vezes, mas também são motores de lucro para muitos gestores e ONGs que enxergam no povo de rua a oportunidade de negócio através da tutela e manutenção destes nas ruas, não como seres humanos que anseiam uma vida digna e autônoma. Estamos falando de um mal estrutural que valoriza mais o atendimento pelo atendimento e não a saída efetiva das ruas, pois a saída efetiva das ruas seria uma outra sociedade, um outro mundo possível, pois neste mundo tudo é lucro, inclusive a miséria.

A população na rua nesta lógica é um projeto político.

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